ECOS DO PASSADO: NARRATIVAS DE HERANÇA E SOLIDÃO

Tiago Oliveira

Moro em Nova Iorque. Num prédio que nem sei o nú­mero de andares. Num andar com tantas divisões que não sei o que fazer com elas. Da janela do meu quarto vejo o Central Park e da janela da cozinha vejo o Empire State. No meu prédio morava Tom Wolfe. Vejo a esposa muitas vezes a sair com um galgo preto para o levar a passear. Já meti conversa com ela uma ou duas ve­zes. Mas ignora-me sempre. Morava também Lou Reed. Cheguei a vê-lo umas duas vezes. De blusão de cabedal e óculos escuros. Uma vez cruzámo-nos no elevador. Disse-me um hi. Acenei com a cabeça enquanto mas­cava uma pastilha de menta. Disse que gostava imenso de The Velvet Underground & Nico. Cool, respondeu-me de volta.